O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e trabalhadores da Embraer destacaram, durante audiência pública, realizada no último dia (7), na Câmara dos Deputados, que o governo pretende vender a empresa por um valor muito abaixo dos investimentos feitos desde sua criação em 1969.

Convidados pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara, sindicalistas e Dieese assinalaram que o processo de desmonte do setor aéreo iniciou, com demissões já em curso e problemas na gestão da empresa.

A venda de 80% da Embraer para a Boeing, anunciada no começo de julho deste ano, sob o ponto de vista dos trabalhadores, precisa ser reavaliada. O valor oferecido pela gigante da aviação americana não chega a US$ 4 bilhões de dólares.

Representando o Dieese, Renata dos Santos destacou que o governo brasileiro já investiu muito na empresa para agora praticamente vendê-la mal. Pelo acordo anunciado, o controle da área de aviação comercial da Embraer ficará nas mãos da norte-americana Boeing.

Vale lembrar que desde 19 de agosto de 1969, a Embraer é uma das maiores empresas aéreas do mundo e a principal fabricante brasileira de aviões. Ao longo de sua história de quase 50 anos a empresa já produziu 46 modelos de avião. Hoje, fabrica apenas 12.

Para melhorar este cenário de abandono, Renata dos Santos sugeriu melhorias de gestão na empresa. E citou os números que apontam uma renúncia fiscal de quase R$ 350 milhões por ano com a desoneração da folha de salários da Embraer desde 2012. Para ela, isto não resultou na manutenção dos empregos. Dos 17 mil postos de trabalho, ficou um quadro que não chega em 2 mil funcionários, salientou a dirigente do Dieese.

Previdência

Herbert da Silva, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, disse que a denúncia precisa ser apurada. “A Previdência Social brasileira contribuiu com o lucro dos acionistas da Embraer e isso tem que ser bem dito nesta comissão aqui, que é a comissão que trata do tema. Uma política que foi adotada para beneficiar a população não trouxe benefício nenhum. Muito pelo contrário. Trouxe demissões nas fábricas”, disse Silva.

Já a representante do Dieese afirmou que o argumento de que a Embraer precisa de parceria com a Boeing porque a sua principal concorrente, a Bombardier, já está em parceria com a Airbus, não procede. Segundo ela, o negócio com a Boeing – que ainda precisa de autorização do governo federal – seria uma venda mesmo da aviação regional, cerca de 80% da empresa; e a Bombardier teria apenas uma parceria em um projeto específico.

Empregos

De acordo com Renata dos Santos, cada emprego na Embraer tem relação com outros três empregos em áreas complementares ou no comércio da região onde ela atua. Portanto, a viabilidade da empresa no Brasil após a concretização do negócio deveria ser bastante discutida pelo governo.

Os sindicalistas também citaram informações publicadas na imprensa de que o valor das ações da Embraer caiu 30% desde o anúncio da transação no começo de julho. Segundo as notícias, os investidores afirmam que o valor proposto para a compra da empresa é pequeno.

Setor aéreo nacional sob ameaça

O Plenário da Câmara dos Deputados pode votar hoje (7) projeto que aumenta a participação do capital estrangeiro em companhias aéreas (PL 2724/15). Essa proposta, que tramita em conjunto com o PL 7425/17, aumenta a participação estrangeira de 20% para 49%, com possibilidade de chegar a 100% com autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), do Ministério da Defesa e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o órgão do Ministério da Justiça que cuida da concentração do mercado.

Atualmente, o máximo permitido pelo Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565/86) é de 20%.

Fonte: Vermelho.

 

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