Luis Miguel Ribeiro, presidente da ANAC, no aeródromo de Ponte de Sor durante os testes levados a cabo com um sistema de monitorização de drones. Nos próximos tempos vão ser identificadas as infraestruturas críticas que deverão ser protegidas.

Um radar, um par de câmaras e comunicações de rádio para o que der e vier. Junto à pista do Aerodromo de Ponte de Sor, representantes de governo, aviação civil e polícias juntam-se à volta de um ecrã com o mapa da pista. Quem não trouxe óculos de sol tem dificuldade em ver o pequeno drone que, a título de demonstração, se desloca a algumas centenas de metros. Em contrapartida, os responsáveis da Thales não precisam de óculos ou binóculos para saber o que se está a passar: o sistema de deteção e monitorização de drones permite-lhes ver no ecrã um drone de um quilo, que não ocupa mais 0,01 metros quadrados, a voar a quatro quilômetros de distância. Se não fosse uma sessão de testes, a equipa que gere o aeródromo poderia usar o sistema para bloquear as comunicações de rádio que permitem ao operador controlar o veículo voador ou introduzir coordenadas geográficas falsas que tornariam o voo impossível. E é isso que deverá começar a acontecer em breve: o Governo confirmou que vai avançar com a instalação de sistemas de monitorização em locais em que o voo de drones está interdito.

«A Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), a NAV e a ANA vão fazer um trabalho de identificação das infraestruturas críticas que poderão vir a beneficiar de sistemas de deteção e monitorização de drones», informa Guilherme d’Oliveira Martins, secretário de Estado das Infraestruturas.

A Thales foi a primeira entidade convidada para fazer uma demonstração de capacidade tecnológica de um sistema de monitorização de drones para responsáveis das polícias, gestão de aeroportos e aviação civil. Nos próximos tempos, outras se seguirão.

Ao todo, terão sido identificados nove fabricantes de tecnologias com capacidade para fornecer sistemas de monitorização de voos de drones às denominadas infraestruturas críticas nacionais. Só depois desta fase de demonstrações e da identificação dos espaços civis que, a par dos aeroportos e aeródromos, deverão beneficiar de sistemas de monitorização é que os diferentes organismos públicos poderão avançar para as encomendas. Guilherme d’Oliveira Martins prefere não apontar qualquer data para a instalação de sistemas de monitorização, mas confirma que a compra destes equipamentos deverá ser precedida de concursos.

Ao contrário dos sistemas de monitorização, a legislação que prevê o registo de drones e torna obrigatórios os seguros já não deverá tardar muito a sair. A a ANAC está em fase de conclusão do documento que deverá servir de guião à proposta de lei que o Governo deverá apresentar nos próximos tempos. «Queremos que a legislação que prevê o registo e torna obrigatórios os seguros comece a ser aplicada no início do próximo ano», acrescenta Guilherme d’Oliveira Martins.

Regulação e coerção

No início de 2017, a ANAC aprovou uma regulação que limita o voo de drones com pesos entre 250 gramas e 25 quilos aos 120 metros de altitude e sempre em linha de vista, entre outras restrições. A regulação acabou por não impedir a proliferação de casos de avistamento ou aproximação de drones nos maiores aeroportos nacionais. Entre janeiro e setembro de 2017, a ANAC contabilizou 24 casos de avistamento nas imediações de corredores aéreos ou aeroportos – um número que supera a soma das ocorrências registadas nos quatro anos anteriores. Entre os especialistas, há quem relacione algumas ocorrências com o início das férias escolares, mas é quase impossível confirmar se a tese tem fundamento. Até porque, apesar das queixas que a ANAC já encaminhou para o Ministério Público, a investigação destes casos está sempre sujeita a uma elevada taxa de insucesso, pelo simples facto de um operador poder estar a comandar um drone a várias centenas de metros de distância. O que significa que, em cenário urbano só por sorte ou desleixo se consegue localizar o operador de um drone que está a voar em espaço interdito.

Luís Miguel Ribeiro, presidente da ANAC, acredita que o registo de drones e a obrigatoriedade dos seguros já tenham o potencial necessário para dissuadir comportamentos de risco, mas recorda que haverá casos em que a mudança na lei pode não ser suficiente. E por isso é necessário avançar com sistemas de monitorização e bloqueio de drones nalguns espaços mais críticos. «Se tudo o resto falhar, pelo menos teremos algo para atuar», refere o líder da ANAC.

Testes como o que decorreu na segunda-feira em Ponte de Sor com a Thales deverão agora repetir-se nos tempos mais próximos, para que representantes das autoridades e das gestoras de aeroportos conheçam melhor o potencial das plataformas de monitorização de drones. «Faz sentido que os aeroportos tenham sistemas de deteção de drones, mas estes sistemas ainda terão de ser testados para percebermos as capacidades que eles têm», refere Luís Miguel Ribeiro.

Os sistemas de monitorização não serão todos iguais – mas a demonstração da Thales permite ter uma ideia daquilo que a tecnologia atual já permite fazer. Na demonstração, a marca tecnológica usou um radar, que tanto pode fazer a monitorização em 360 graus como poderá incidir a num pequeno ângulo para ter maior alcance, uma câmara para espectro visível e uma câmara térmica que pode localizar drones através do calor emitido pelos motores. Os três dispositivos podem funcionar de modo concertado, para que as câmaras apontem imediatamente para um veículo voador que cruzou um espaço interdito. A estes três equipamentos, junta-se ainda um sensor de rádio, que deteta emissões que cruzem os céus a menos de dois quilómetros de distância.

Todos os dados captados por estes equipamentos são sinalizados e apresentados sobre um mapa do aeródromo (ou qualquer outra infraestrutura monitorizada), que facilita a localização de um drone que está a sobrevoar um espaço interdito. É também através das coordenadas fornecidas por esta plataforma que um gestor de aeroporto poderá ativar um bloqueio de drone através da distorção de coordenadas GPS ou mediante interferências nas comunicações de rádio entre drone e operador.

Estas ferramentas de bloqueio terão um alcance máximo de dois quilómetros. Em alguns cenários, também é possível enveredar pela criação de “bolhas de rádio”, que inviabilizam qualquer comunicação em determinadas faixas hertzianas, mas essa solução, além de poder ser mais indicada para a proteção temporária de alguns recintos, tem o senão de poder criar interferências em comunicações de rádio que, apesar de úteis ou inofensivas, funcionam nas mesmas frequências dos drones.

Na Thales, há a expectativa típica de qualquer marca tecnológica perante um potencial filão de negócio: «Não há muitas experiências deste género noutros países. Temos conhecimento de um aeroporto que já implementou estes sistemas e sabemos ainda de uma experiência que está a decorrer na Arábia. Há uma necessidade no mercado para suprir», informa João Salgueiro, diretor de Marketing e Comunicação da Thales em Portugal.

Não restam muitas dúvidas de que os bloqueadores de drones vão acabar por se disseminar – mas ainda há dúvidas quanto à solução que vai acabar por prevalecer. E o mesmo se passa quanto à função que deverá ser assegurada por cada entidade: «Os sistemas podem ter um nível de deteção e um nível de neutralização – e podem ter de ser entidades diferentes a atuar nestes dois níveis. No limite, até poderá ser necessária uma terceira entidade, caso seja necessário prender o operador. A própria lei terá de determinar quem pode atuar em cada situação», refere João Salgueiro.

O responsável da Thales não tem dúvidas de que os sistemas de monitorização são a peça que falta para que os voos rasantes e outro tipo de brincadeiras perigosas acabem nas imediações de aeroportos e corredores aéreos: «Se as pessoas souberem que um aeroporto está protegido, já não vão para lá com os drones. E se souberem que a punição é dura… então não vão mesmo», conclui João Salgueiro.

Fonte: Exame Informática.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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