Nas viagens de avião, o tempo e os processos que envolvem ir ao aeroporto, embarcar e chegar ao destino final podem ser altamente desgastantes para os passageiros e o meio ambiente. Otimizar essas etapas mobiliza pesquisadores, já que a tendência é que a aviação transporte cada vez mais pessoas e cargas em um mundo preocupado com a sustentabilidade. As soluções em teste são diversas: de aeroportos projetados para funcionar no centro de grandes cidades a aeronaves para voos individuais. Um grupo de estudantes da Escola de Arte de Glasgow, na Escócia, e cientistas da empresa alemã Bauhaus Luftfart desenvolveram um novo conceito de aeroportos para ser construído em centros urbanos. Projetado para 2050, o CentAirStation terá 640m de comprimento, 90m de largura e, no mínimo, quatro andares. Aeronaves conseguirão decolar no local de pistas curtas e, como ele estará dentro da cidade, os passageiros não levarão mais do que 15 minutos para chegar ao ponto de decolagem.

Para isso, também haverá integração com outros meios de transporte. “O CentAirStation combinará a funcionalidade de conectar os modos de transporte, por exemplo, trem de alta velocidade, trem suburbano, carros e bicicletas, além de oferecer espaço de construção adicional para instalações não relacionadas ao transporte, como hotéis e escritório”, explica ao Correio Kay Ploetner, um dos idealizadores do projeto e pesquisador da Bauhaus Luftfart.

Ploetner explica que a meta do espaço é atender cerca de 10 milhões de passageiros, com um crescimento anual de até 15 milhões de pessoas. “Isso exigirá uma operação de 16 horas por dia, com uma média de 30 pousos e decolagens por hora”, frisa. A equipe também desenvolveu um modelo de aeronave que se encaixa às demandas do aeroporto. Apelidado de CityBird, o avião tem asas perpendiculares, capacidade para transportar cerca de 60 pessoas e um sistema de decolagem realizado por meio de uma espécie de catapulta. “O tempo em solo será limitado em 15 minutos. A CityBird foi projetada especificamente para as necessidades do CentAirStation”, diz Ploetner.

A equipe reconhece que há muito a ser feito para o projeto sair do papel, como a construção ou reformulação de cidades que permitam o funcionamento do aeroporto sustentável. “Existem várias iniciativas de pesquisa que têm visado aeronaves menores, que operem a partir de aeroportos menores e mais distribuídos. Chamamos isso de operações de trânsito fino. Esses conceitos são principalmente voltados para energia totalmente elétrica, oferecendo um enorme potencial para impactar viagens de cidade para cidade. As cidades que investigaremos para o uso do nosso CentAirStation serão analisadas com base nessas possibilidades”, adianta Ploetner.

Segundo o cientista, há três pontos-chave para a reformulação dos aeroportos. O primeiro é como permitir que a aviação cresça e atenda uma demanda futura com a infraestrutura existente. O segundo consiste em incorporar de forma eficiente esse sistema a outros modos de transporte. “Por fim, temos que saber como podemos garantir que a pegada ambiental da aviação possa ser significativamente reduzida”, completa.

Integração

Segundo Jorge Eduardo Leal Medeiros, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), esses e outros desafios para a construção de aeroportos otimizados estão sobre a mesa de arquitetos e urbanistas e devem ganhar espaços ainda mais prioritários. “É uma tendência. Temos visto muito isso, inclusive, em pequenas mudanças, como em relação à iluminação da pista. Muitas empresas buscam sistemas que tentem usar luz solar para essa tarefa, o que economiza bastante energia e é benéfico ao planeta”, ilustra.

O especialista ressalta que, assim como no projeto da Bauhaus Luftfahrt, um ponto bastante explorado no planejamento de aeroportos do futuro é a busca por formas que facilitem o acesso ao local. “Há uma preocupação em simplificar esse processo para que seja possível o uso da bicicleta, de ônibus e até de trens, que são opções um pouco mais difíceis de incorporar em todas as cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, mas que se encaixariam bem em outros locais. Isso facilitaria principalmente em regiões em que o fluxo de pessoas é alto”, ressalta Medeiros, listando em seguida alguns benefícios da adoção dessas práticas. “Essas alternativas evitariam a poluição produzida pelos carros e trariam uma economia de tempo na locomoção.”

Fonte: Correio Braziliense.

 

 

 

 

 

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