“Se voar é sobre-humano, pairar é divino”

Esta velha frase, de autor desconhecido, expressa a surpresa diante dos primeiros voos dos aviões no início do século XX, logo superada pela engenhosidade de alguns homens, como Paul Cornu, Juan de La Cierva e Igor Sikorsky que, ao criarem o helicóptero, levaram flexibilidade e versatilidade à aviação com o voo pairado e o pouso em praticamente qualquer terreno.

O resultado dessa proeza levou o ser humano ao completo domínio do ar. No entanto, a capacidade do homem em avançar científica e tecnologicamente é ainda mais admirável, quando acompanhada da expectativa pelo que é capaz de realizar com suas criações, especialmente quando influenciado por virtudes e valores grandiosos.

Foi atendendo a essa expectativa que, em 3 de fevereiro de 1964, a Força Aérea Brasileira realizou sua primeira missão real de busca e salvamento em combate. Tudo ocorreu durante uma missão de Paz da ONU, no sul do Congo. Voando em um H-19 Chicksaw, o então Tenente Milton Naranjo e o Sgt Wilibaldo Moreira Santos, sem hesitação, arriscaram suas vidas para socorrer os tripulantes e quatro freiras que, com outro H-19, haviam pousado em emergência em uma savana sob domínio rebelde. A aproximação iminente do inimigo fortemente armado urgia para que o resgate fosse imediato.

Mesmo sob os disparos das armas inimigas e a visão turva pela poeira levantada após o pouso, sobressaíram-se os tripulantes que, com seus fuzis, mantiveram os inimigos suficientemente à distância para garantir o embarque dos sobreviventes. Graças a coragem e ao espírito de equipe dos militares envolvidos, todos retornaram em segurança para seus lares.

A atitude desses militares em combate nunca mais seria esquecida. Tornou a referida data um marco indelével na história da FAB, pois representou com perfeição o perfil daqueles que fazem parte dessa audaciosa aviação. É exatamente em homenagem à atuação desses valorosos homens e mulheres que hoje comemoramos o Dia da Aviação de Asas Rotativas.

Ao longo da história, a Força Aérea Brasileira operou inesquecíveis helicópteros, como os H-13, H-19, H-33, H-34 e H-55, além dos lendários H-1H. Essas máquinas desafiaram a habilidade dos pilotos e tripulantes, em virtude da rusticidade e limitações de seus sistemas. Para a instrução primária, o desafio é proporcionado pelo consagrado H-50 Esquilo, o qual lapida o perfil e a capacidade psicomotora dos novos pilotos de helicóptero da FAB.

Entretanto, para enfrentar os atuais e futuros cenários de emprego do Poder Aeroespacial, cada vez mais difusos, são necessários helicópteros confiáveis e robustos, projetados para absorver equipamentos que proporcionam automação e elevada capacidade de sobrevivência e letalidade.

Atualmente, na FAB, tais condições são proporcionadas por helicópteros largamente testados em combate, como os H-60 Black Hawk, os AH-2 Sabre e os H-36 Caracal, os quais, juntos, formam a linha de frente do emprego operacional da Aviação de Asas Rotativas.

Apesar da inegável importância de se operar helicópteros modernos, deve-se ressaltar que, na história, nenhuma missão bem sucedida ocorreu sem contar com a competência e a abnegação dos tripulantes que optaram por estarem sempre prontos para fazer a diferença, seja recuperando militares isolados, engajando contra forças de superfície inimigas ou transportando pessoal e material, a exemplo do que ocorreu no Congo, mas também nos diversos compromissos institucionais em tempo de paz.

Dentre esses compromissos, destacam-se a integração nacional, por meio dos auxílios às inúmeras comunidades isoladas do País; o apoio à Defesa Civil, por meio do auxílio às vítimas das calamidades públicas; além do atendimento à Convenção de Aviação Civil Internacional, por meio do Sistema de Busca e Salvamento Aeronáutico.

Atualmente, as perspectivas de novos avanços continuam graças às medidas de concentração das atividades afins, de redução dos níveis organizacionais e de diminuição das atividades-meio, proporcionadas pela recente Reestruturação do Comando da Aeronáutica, baseada na “Concepção Estratégica Força Aérea 100”. O aprimoramento das capacitações dos tripulantes e a constante atualização doutrinária conduzida pelo Comando de Preparo, sucedem essas medidas e permitem, a passos firmes, rumarmos a uma condição de excelência operacional sem precedentes na Aviação de Asas Rotativas e na Força Aérea.

Recentemente, tivemos um exemplo disso ao realizarmos o primeiro reabastecimento em voo com helicóptero da América Latina. Esta importante capacidade estratégica, obtida com a aeronave H-36 Caracal, permitirá avançarmos sobre a área marítima de responsabilidade SAR e abreviarmos os resgates a longas distâncias. Da mesma forma, a recente chegada das aeronaves H-60 em Campo Grande possibilitará a cobertura SAR em uma área de extrema relevância na fronteira oeste, em virtude da dificuldade de acesso à região pantaneira e do elevado tráfego de aeronaves particulares e de tráfegos ilícitos que circulam naquele espaço aéreo.

Com isso, cada vez mais a Força Aérea Brasileira cumpre o seu papel de estar presente em cada canto dos 22 milhões de quilômetros quadrados sob sua responsabilidade, prestando apoio e garantindo a soberania, principalmente onde poucos conseguem chegar.

Caros combatentes da Aviação de Asas Rotativas, como se pode observar, a Força Aérea Brasileira, ao adotar o trinômio Controlar, Defender e Integrar, lhes reserva, principalmente nas duas últimas palavras, grande parte de sua responsabilidade.

Para cumprir com essa tarefa, devemos preservar as virtudes demonstradas naquele 3 de fevereiro de 1964 e sermos versáteis e flexíveis como nossos helicópteros. Assim, continuaremos cumprindo nosso dever e até superando as expectativas, sem deixarmos de acompanhar o progresso que novos tempos nos trazem.

Ademais, sigamos confiantes no futuro e firmes em nossos ideais. Quando o Brasil precisar, certamente contará com a prontidão, o profissionalismo e a competência dos esquadrões de Asas Rotativas da Força Aérea Brasileira e ouvirá, ao final de mais uma missão, o brado:
AOS ROTORES!! O SABRE!!

Tenente-Brigadeiro do Ar ANTONIO CARLOS EGITO DO AMARAL

Fonte: Defesa Agência de Notícias.

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